domingo, 20 de fevereiro de 2011

AINDA A MOÇÃO DE CENSURA



Nada mais absurdo para a esquerda do que criticar uma moção de censura com os argumentos que a direita utiliza e que só aproveitam ao PS, viabilizando-lhe a vitimização .

E é o que por aí mais se vê, mesmo em sectores alegadamente de esquerda.
Por isso o teor da fundamentação da mesma causou, e causa, engulhos a muitos.

É que esta moção - e os mais avisados há muito que o compreenderam - tinha um alcance político que não se confinava à famigerada "bomba atómica " a que os seus detratores a pretenderam reduzir.

Perante a direita, e os angelicais fautores da sua política, ficou claro que não se lograva substituir o acidental para que tudo permanecesse na mesma. A moção não é subscritível - como, já vimos, não será -, nem pelo PSD nem pelo CDS.

Perante a esquerda empedernida ficou claro - se tanto ainda era necessário ( pessoalmente, acho que não ) - que não nos confundimos com ela. Antecipámo-nos, mas com os n/ argumentos e razões ( agora até o PC, e bem, ao que parece, a subscreve ).


Em política, como já por mais de uma vez citei, o caminho mais curto entre dois pontos não é, as mais das vezes, a linha recta, mas a curva.

E até posso equacionar que se ponha em causa a tempestividade da moção, mas nem isso me leva a não concordar com o seu anúncio e consequente apresentação .
Há imperativos que são na verdade categóricos. E era imperativo que uma vez por todas se chamasse a atenção, por forma decisiva e formal, para a política de direita e neo liberal que o PS vem tristemente praticando com o aval do PSD . Que lhe vem fazendo o trabalho sujo...
E este objectivo foi atingido.
Era cogente chamar os bois pelos nomes, sem panos quentes.


Outra coisa é estar ou não de acordo com a democraticidade da sua génese. Aí, sim, tenho reservas.

Mas isso são contas do meu rosário na qualidade de modesto militante de base do BE. E é aí, no BE, que pretendo resolver as minhas inquietações...
Mas felizmente que não tenho o rosário de outros. Que não tenho que resolver dados adquiridos como o frontal posicionamento anti-capitalista nem questões próprias de um certo centrão dos interesses, onde conjunturalmente pontifica o PS, sempre preocupado em fazer passar gato por lebre e vender uma imagem na qual já nem ele próprio se revê ( veja-se a propósito a sagrada união do PS / PSD que não deixou passar o plafond para as remunerações dos gestores públicos. Uma vergonha! )
Felizmente que não me movo em areias movediças.

Estou certo que o Bloco de Esquerda congeminou maduramente o risco que alguns chamam de entrega do poder ao PSD .
Nunca o vi embarcar em taticismos suicidários....

E não vejo, como Daniel Oliveira, qualquer complexo de inferioridade perante o PC.
Talvez ele o veja por lá ter estado, mas também aqui são contas do rosário do comentador e meu camarada.
Nem vejo outrossim qq. tentativa de contenção dos eventuais danos derivados pelo apoio a Manuel Alegre. Bem pelo contrário, reforça e estimula a confiança daqueles que são verdadeiramente socialistas. Que dos outros, não precisamos.

Somos confiáveis, não passamos a mãozinha pelo lombo de qualquer amigalhaço do Passos Coelho ( v.g. Jerónimo Martins ) ou de José Sócrates ( v.g. Jorge Coelho / Lisconte ).

Se não obstante, ainda assim se entender que esta moção se saldou numa derrota para o BE, apenas há que aprender a viver com a mesma, e retirar daí as ilações para futuro.


Mas se não estou com Daniel Oliveira nos considerandos que referi, há que ser justo, e com ele, dizer que sem o povo de esquerda que vota tradicionalmente no PS não haverá nenhuma reconstrução do espaço político à esquerda.
E a reconstrução da esquerda passa pelo Bloco.

A este propósito lembro a evocação que aqui fiz há algum tempo da memória de Fernando Valle, destacado vulto do PS, que, já centenário, dizia :
" O Bloco de Esquerda é uma esperança para mim. Quase me apetecia votar neles, só o não faço por compromissos anteriores "
Mas eu, que não tenho compromissos, continuo a trilhar este difícil caminho da esquerda no seio do BE .

2 comentários:

  1. Se conseguisses que as opiniões aqui expendidas formatassem directamente a realidade política portuguesa o que conseguirias depois fazer com ela?

    O meu vaticínio é que não conseguirias ir além de um coro de resmungos,quiçá enérgico, sem qualquer efeito prático positivo.

    Enfim, que o teu santo socialista que tanto veneras e tantas vezes citas, te ilumine.

    Abraço.

    Rui Namorado

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  2. Meu querido Rui,
    1.- Como calcularás, só tenho um santo. O São Bento…
    2.- Mas quanto a vaticínios, eu também tenho um: se a corrente de opinião em que te inseres e fundaste no PS chegasse a bom porto, ficar-se-ia por um mini-coro.
    3.- Mini-coro em que nem tu próprio te revias, pois que fizeste questão, certamente pelas melhores razões, de aí votar contra a apresentação de uma alternativa a Sócrates.
    4.- Fica contudo a pairar uma dúvida : seria o v/ candidato uma alternativa maoista ou trotskista ?...
    5.- E será que essa CO é tão conflituosa e rezingona que nem unanimidade consegue para pôr no olho da rua o neo liberal Sócrates? Ou pelo menos tentar... ?!

    Algo vai mal no reino da tua CO...
    E claro que o PS, sempre optimista e côr de rosa, todo ufano dirá : que democratas que somos que até temos direito de tendência e CO’s.
    Mas tudo muito bem comportadinho como convem, pois
    Desculpa, Rui, estás lá tu para os chamares à razão. Assim não vale!

    Como diria o Bartozek, viva a República e a Raínha também.

    Um forte abraço do teu,

    ( bento)

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