quinta-feira, 17 de setembro de 2009

o voto útil e os apolíticos









Há quem esteja na política pelas mais diversas razões.
Há quem esteja por convicções.
Há quem esteja por interesses.
Há quem esteja por ambição pessoal.
Há ainda uma zona cinzenta, que é um misto de todas, ou de parte delas e ainda outras.

Mas há quem não esteja na política, e também por diversas razões.
Porque a considera suja, porca, corrupta.
Porque ache a política desinteressante e interesseira.
Porque a encare como uma pura perda de tempo e tem mais que fazer.
Depois também aqui há uma zona cinzenta, que é um misto de todas, ou de parte delas e ainda outras.

Estes últimos, os "apolíticos" - excrecência salazarenta da " minha política é o trabalho" -, encontram, as mais das vezes, na sobranceria e no desdém a "porta de saída" para o injustificável....
É que até os salazarentos "apolíticos" se sentem na obrigação de apresentar "razões" para assim procederem...

E por isso, eu pergunto :
Será que há alguém que afirme não ter convicções ?
Será que há alguém que não opine sobre a política ?

Ainda a mesma pergunta, mas por via diversa :
Será que há alguém que já não se tenha pronunciado sobre o casamento, o divórcio, as uniões de facto, a IVG, as uniões entre pessoas do mesmo sexo ?
Será que há alguém que nunca tenha tomado posição quanto à n/ economia, quanto aos trabalhadores, quanto às empresas, aos escândalos políticos e financeiros, quanto à corrupção e à segurança das n/ pessoas e bens ? E quanto à Justiça e ao SNS e à saúde neste país ?
A resposta parece-me óbvia. Não há !

E se assim é, surge como inevitável perguntar uma vez ainda : como ficar estático e inerte à espera que outros façam política por nós ?
Mas facto é que há quem não faça política a não ser por omissão !
E o que é grave é que esta postura escancara as portas ao oportunismo político dos dois partidos do centro, e em particular ao que se costuma designar pela aristocracia dos interesses.

Mas, para além dos apolíticos, há ainda aqueles que vendem sem pudor a tese do voto útil, tentando transformá-la na panaceia para todos os males do país.
E todos eles, prosélitos do voto útil, por um lado, e apolíticos salazarentos, por outro, todos convergem assim, e por vezes até sem dar por ela, para o caldo de cultura onde se movem os interesses, o centrão.

E fazem-no desde os primórdios da n/ democracia, desde o 25 de Abril.
Sim, porque no 24 de Abril a questão não se punha.
Os grupos Mello não tinham que esmiuçar estas minudências: não votas e acabou-se !

E é neste contexto que agora, passadas quase 4 décadas sobre o 25 de Abril, a tese do voto útil assume contornos mais sofisticados.
Ele é a ingovernabilidade..., a instabilidade...., o papão das esquerdas totalitárias ( trotkistas, estalinistas, etc., etc., etc. ) ..., ele é, imagine-se!, " que estão a fazer o jogo da direita"...
( mas a direita, que não acredita em histórias da carochinha, não gosta desta esquerda consequente, e opta por Sócrates ou por Manuela. E opta muito bem ! ...).

E esta esquerda soft e bem comportadinha - a esquerda / direita do conúbio parlamentar - martela, martela, martela ad nauseam a tecla de putativas maiorias parlamentares, pretendendo assustar o eleitorado de esquerda com fantasmas e papões.
Après nous, le déluge !...

Mas o parlamento não é imutável e o eleitorado de esquerda não se deixa amedrontar. E opta, opta bem! Veja-se o crescimento do BE nestes 10 anos !

E aqueles senhores da "esquerda" soft defendem ou não a democracia, o respeito pela diversidade das opções e a sua expressão nas urnas e nas ruas ?
Agarrados a um histórico eleitoral que pretendem perpetuar, o que estes arautos do voto útil estão a fazer é, na prática ( quando não, em teoria ...) a tentar transformar a defunta União Nacional do partido único na União Nacional a dois partidos .

Pode parecer violento, e concedo que injusto para uns tantos, mas a postura que assumem não permite outra conclusão.

É que, como vimos, o desenvolvimento lógico do pensamento ancorado no “voto útil” ou no “não voto” do apolítico desagua, em ambos os casos, naquilo que por forma encapotada, ou não, efectivamente pretendem : o fim do que aristocraticamente apelidam de partidos "radicais"...
Partidos que nada cá estariam a fazer senão a atrapalhar os seus interesses e objectivos bipartidários....
Dir-se-á que o “não voto” dos apolíticos sempre desaguaria na direita mais trauliteira..., mas não se esqueçam que “ quem se mete com o PS, leva…”

Só que não voltaremos a uma União Nacional envergonhada, ainda que travestida de centrão, nem ao bipartidarismo monárquico de má memória (regeneradores vs. progressistas).

A História e a consciência individual e colectiva não o consente !
.

5 comentários:

  1. União Nacional?

    Ó Bento,não deixes o teu sectarismo partidário insultar a tua inteligência!

    Abraço.

    RN

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  2. Meu querido Rui,
    Sectarismo partidário ?
    Sectarismo partidário é apelar ao voto útil, esse descarado apelo à violentação da cosciência de cada um .
    Sectarismo partidário é defender o fim do neo liberalismo e votar Durão Barroso.
    Por isso,Rui, se alguém por sectarismo partidário tem vindo a insultar a própria inteligência, não tenho sido eu...
    Eu não abro silêncios cúmplices com o desgraçado voto Barroso nem silencio os encómios do Gama à União Nacional do Alberto João .
    É que também só por sectarismo partidário se cala a desgraça…
    Um forte e sempre muito amigo abraço do teu,
    bento

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  3. Achas mesmo que o PS é a União nacional ?

    Nem o Pacheco Pereira te convenceu que é um tanto precipitado identificar o PS com a direita ?

    Neste dia de reflexão, convido-te a reflectir repousadamente sobre o que escreveste, para não correres o risco de escreveres o que rapidamente deixas de pensar.

    Ou será que mesmo tu, te deixaste apenhar pelo siplismo do velho estalinismo dos anos 30 do século passado: "Enterrar o nazismo sob o cadáver da social-democracia!"

    Como a história nos mostrou foi o nazismo que enterrou os comunistas e os sociais-democratas alemães.

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  4. O pior cego é aquele que não quer ver.
    O pior arguente é aquele que adultera as premissas que pretende refutar, mas que deliberadamente tresleu para, no melhor estilo “Pacheco Pereira”, à míngua de argumentos, criticar o que não foi dito.

    E o que foi dito é que " ...não voltaremos a uma União Nacional envergonhada, ainda que travestida de centrão ... "

    Mas o que receio não é o Estaline, morto e sepultado, o que receio é que vejamos um Sócrates, bem vivinho e paladino do neo liberalismo, transformado em Kerensky, abrindo as portas a um qualquer Kornilov / P.Portas.

    E já agora, quanto à memória histórica de Estaline / Hitler o que me aterroriza são as operações “Barbarosa”, ou seja, a imolação da "ingenuidade" PS em altares “Ribbentrop / Molotov” ( PS / CDS )

    O abraço de sempre,
    BM

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  5. Caro Bento:
    Só agora li o teu comentário.

    Inventaste um novo género: o surrealismo político. Ou, num registo mais tradicional, o método do portuguesíssimo e coimbrão "fado histórico", mas com enredo político.

    É a política como imaginação. Compreende-se: a realidade é resistente e teimosa.

    Um abraço

    RN

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