
Há quem esteja na política pelas mais diversas razões.
Há quem esteja por convicções.
Há quem esteja por interesses.
Há quem esteja por ambição pessoal.
Há ainda uma zona cinzenta, que é um misto de todas, ou de parte delas e ainda outras.
Mas há quem não esteja na política, e também por diversas razões.
Porque a considera suja, porca, corrupta.
Porque ache a política desinteressante e interesseira.
Porque a encare como uma pura perda de tempo e tem mais que fazer.
Depois também aqui há uma zona cinzenta, que é um misto de todas, ou de parte delas e ainda outras.
Estes últimos, os "apolíticos" - excrecência salazarenta da " minha política é o trabalho" -, encontram, as mais das vezes, na sobranceria e no desdém a "porta de saída" para o injustificável....
É que até os salazarentos "apolíticos" se sentem na obrigação de apresentar "razões" para assim procederem...
E por isso, eu pergunto :
Será que há alguém que afirme não ter convicções ?
Será que há alguém que não opine sobre a política ?
Ainda a mesma pergunta, mas por via diversa :
Será que há alguém que já não se tenha pronunciado sobre o casamento, o divórcio, as uniões de facto, a IVG, as uniões entre pessoas do mesmo sexo ?
Será que há alguém que nunca tenha tomado posição quanto à n/ economia, quanto aos trabalhadores, quanto às empresas, aos escândalos políticos e financeiros, quanto à corrupção e à segurança das n/ pessoas e bens ? E quanto à Justiça e ao SNS e à saúde neste país ?
A resposta parece-me óbvia. Não há !
E se assim é, surge como inevitável perguntar uma vez ainda : como ficar estático e inerte à espera que outros façam política por nós ?
Mas facto é que há quem não faça política a não ser por omissão !
E o que é grave é que esta postura escancara as portas ao oportunismo político dos dois partidos do centro, e em particular ao que se costuma designar pela aristocracia dos interesses.
Mas, para além dos apolíticos, há ainda aqueles que vendem sem pudor a tese do voto útil, tentando transformá-la na panaceia para todos os males do país.
E todos eles, prosélitos do voto útil, por um lado, e apolíticos salazarentos, por outro, todos convergem assim, e por vezes até sem dar por ela, para o caldo de cultura onde se movem os interesses, o centrão.
E fazem-no desde os primórdios da n/ democracia, desde o 25 de Abril.
Sim, porque no 24 de Abril a questão não se punha.
Os grupos Mello não tinham que esmiuçar estas minudências: não votas e acabou-se !
E é neste contexto que agora, passadas quase 4 décadas sobre o 25 de Abril, a tese do voto útil assume contornos mais sofisticados.
Ele é a ingovernabilidade..., a instabilidade...., o papão das esquerdas totalitárias ( trotkistas, estalinistas, etc., etc., etc. ) ..., ele é, imagine-se!, " que estão a fazer o jogo da direita"...
( mas a direita, que não acredita em histórias da carochinha, não gosta desta esquerda consequente, e opta por Sócrates ou por Manuela. E opta muito bem ! ...).
E esta esquerda soft e bem comportadinha - a esquerda / direita do conúbio parlamentar - martela, martela, martela ad nauseam a tecla de putativas maiorias parlamentares, pretendendo assustar o eleitorado de esquerda com fantasmas e papões.
Après nous, le déluge !...
Mas o parlamento não é imutável e o eleitorado de esquerda não se deixa amedrontar. E opta, opta bem! Veja-se o crescimento do BE nestes 10 anos !
E aqueles senhores da "esquerda" soft defendem ou não a democracia, o respeito pela diversidade das opções e a sua expressão nas urnas e nas ruas ?
Agarrados a um histórico eleitoral que pretendem perpetuar, o que estes arautos do voto útil estão a fazer é, na prática ( quando não, em teoria ...) a tentar transformar a defunta União Nacional do partido único na União Nacional a dois partidos .
Pode parecer violento, e concedo que injusto para uns tantos, mas a postura que assumem não permite outra conclusão.
É que, como vimos, o desenvolvimento lógico do pensamento ancorado no “voto útil” ou no “não voto” do apolítico desagua, em ambos os casos, naquilo que por forma encapotada, ou não, efectivamente pretendem : o fim do que aristocraticamente apelidam de partidos "radicais"...
Partidos que nada cá estariam a fazer senão a atrapalhar os seus interesses e objectivos bipartidários....
Dir-se-á que o “não voto” dos apolíticos sempre desaguaria na direita mais trauliteira..., mas não se esqueçam que “ quem se mete com o PS, leva…”
Só que não voltaremos a uma União Nacional envergonhada, ainda que travestida de centrão, nem ao bipartidarismo monárquico de má memória (regeneradores vs. progressistas).
A História e a consciência individual e colectiva não o consente !
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União Nacional?
ResponderEliminarÓ Bento,não deixes o teu sectarismo partidário insultar a tua inteligência!
Abraço.
RN
Meu querido Rui,
ResponderEliminarSectarismo partidário ?
Sectarismo partidário é apelar ao voto útil, esse descarado apelo à violentação da cosciência de cada um .
Sectarismo partidário é defender o fim do neo liberalismo e votar Durão Barroso.
Por isso,Rui, se alguém por sectarismo partidário tem vindo a insultar a própria inteligência, não tenho sido eu...
Eu não abro silêncios cúmplices com o desgraçado voto Barroso nem silencio os encómios do Gama à União Nacional do Alberto João .
É que também só por sectarismo partidário se cala a desgraça…
Um forte e sempre muito amigo abraço do teu,
bento
Achas mesmo que o PS é a União nacional ?
ResponderEliminarNem o Pacheco Pereira te convenceu que é um tanto precipitado identificar o PS com a direita ?
Neste dia de reflexão, convido-te a reflectir repousadamente sobre o que escreveste, para não correres o risco de escreveres o que rapidamente deixas de pensar.
Ou será que mesmo tu, te deixaste apenhar pelo siplismo do velho estalinismo dos anos 30 do século passado: "Enterrar o nazismo sob o cadáver da social-democracia!"
Como a história nos mostrou foi o nazismo que enterrou os comunistas e os sociais-democratas alemães.
O pior cego é aquele que não quer ver.
ResponderEliminarO pior arguente é aquele que adultera as premissas que pretende refutar, mas que deliberadamente tresleu para, no melhor estilo “Pacheco Pereira”, à míngua de argumentos, criticar o que não foi dito.
E o que foi dito é que " ...não voltaremos a uma União Nacional envergonhada, ainda que travestida de centrão ... "
Mas o que receio não é o Estaline, morto e sepultado, o que receio é que vejamos um Sócrates, bem vivinho e paladino do neo liberalismo, transformado em Kerensky, abrindo as portas a um qualquer Kornilov / P.Portas.
E já agora, quanto à memória histórica de Estaline / Hitler o que me aterroriza são as operações “Barbarosa”, ou seja, a imolação da "ingenuidade" PS em altares “Ribbentrop / Molotov” ( PS / CDS )
O abraço de sempre,
BM
Caro Bento:
ResponderEliminarSó agora li o teu comentário.
Inventaste um novo género: o surrealismo político. Ou, num registo mais tradicional, o método do portuguesíssimo e coimbrão "fado histórico", mas com enredo político.
É a política como imaginação. Compreende-se: a realidade é resistente e teimosa.
Um abraço
RN