terça-feira, 2 de junho de 2009

O actor engenheiro e as eleições europeias


A generalidade dos PS's não para, infelizmente, de me surpreender. Disparam a torto e a direito, e agora a culpa do seu desastre eleitoral é de todos e em particular dos partidos à sua esquerda. De todos menos deles próprios.

Que dividiram a esquerda, que facilitaram a vitória da direita, que são anti europeus e populistas, que, q, q. ..., e até
Pasme-se!, que a esquerda do parlamento europeu só perdeu com o reforço do apport trazido pelo Bloco...

Está pressuposto nesta perspectiva, é claro, que a esquerda apenas sairia reforçada se os votos no Bloco tivessem sido votos no PS.


Mas é precisamente isto que carece de demonstração.

É que não se combate a direita com uma política de direita.

O mínimo dos mínimos que o PS poderia ter feito era ler e ouvir a "margem esquerda" que tem no seu seio. E talvez, ...talvez então, o trambolhão não tivesse sido tão grande...


Mas não se iludam. Não foi, nem é, com a margem esquerda que o PS lá vai, pois que, além do mais, não a ouve. Apenas a tolera. E tolera-a pelas piores razões. Para apresentar externamente um verniz de esquerda e de pluralismo interno que efectivamente não quer .


Por isso alguns PS's perguntarão agora :
Que fazer ?

Como remar contra a maré dentro do mesmo barco ?
Contra os Sócrates, os Gamas, os Costas, os Coelhos, os Santos Silvas ?

E a pergunta tem para eles todo o sentido porquanto há situações em que só se salva da tormenta quem escolhe outro "timoneiro" ou outro barco.


Só que o PS, como se vê, não quer outra direcção.
Deixa que tudo se prolongue na agonia das inefáveis escolhas tipo "Vital / Durão Barroso", optando pela continuidade desse grande actor Sócrates.


Excelente actor, na verdade, este Sr. Engenheiro. Que de um dia para o outro, passa de animal feroz a português suave, tolerante, todo delicodoce e humilde...
Mas já ninguém acredita. É farsa a mais.

Por estas e mais algumas, o eleitorado escolheu outros barcos...

Não se queixe agora o PS, que só de si se pode queixar. Sibi inputat.

Mas que fique claro :

Esta hecatombe não foi apenas a consequência lógica da política de direita do PS e das suas máscaras helénicas .

Foi, antes do mais, o corolário da lucidez de um eleitorado de esquerda que cada vez menos se revê na política do "gato por lebre" e que, sem arcos embandeirados, mas c/ segurança e determinação, vai encontrando a sua verdadeira família política e começa também a deixar para trás ultrapassados modelos de paraisos artificiais.



Alguém disse que tudo no Universo corre para a liberdade. Nada mais certo. Mas hoje acrescentariamos também que tudo corre para a solidariedade, a solidariedade dos povos. E isso não se mede em percentagens dos grupos do arco parlamentar europeu.

É com políticas concretas, embora por vezes se tenha de dar um passo atrás para depois dar os tais dois em frente.

Facto é que a marcha da História não para.



Por último, não se diga que a estrondosa derrota do PS nos enche de júbilo. Não!

O que não desgostariamos de ter visto era o PS a cumprir pelo menos a tarefa social democrata que reivindica evitando a sangria do seu eleitorado para o PPD-PSD / PPE.

E o que nos apraz registar é a subida do BE.
Pois ainda que esta venha a revelar-se transitória, o tempo está do nosso lado.

Com crise ou sem crise, com neoliberalismo ou sem ele, a social democracia revela-se cada vez mais incapaz de dar resposta aos anseios do povo de esquerda. Cederá lugar ao socialismo.

E não se trata de uma questão de fé !
É uma questão de tempo. Falamos de convicções.

Sans rancunne...

7 comentários:

  1. Os amanhãs que se esperava que cantassem não cantaram. Os paraísos que se estavam a construir revelaram-se purgatórios. As revoluções que pareciam a glória antecipada do futuro dissolveram-se ingloriamente.

    Por isso,se é certo que o risco de desmoronamento na Europa dos Partidos da Internacional Socialista, na minha opinião, é efectivo, a hipótese de que venham a atingir froça para governarem os partidos tipo Be ou PCP, é uma verdaeira história da carochinha. Se antes destas eleições no plano europeu eram fracos, depois delas ficaram quase irrelevantes.

    E como estava escrito na parede da minha "república" com assinatura de Bossuet: "Não há pior desregramento do espírito do que tomarmos a realidade por aquilo que gostaríamos que ela fosse.

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  2. Bentinho, assino por baixo do teu texto. =) O BE tem muito que andar, no entanto, na luta da liberdade e democracia interna... isso é que para mim é o perigo, o embandeirarmos em arco pelos votos todos (que são, em parte, circunstanciais, oferecidos pelo PS) e esquecermos o trabalho de casa, de trabalho de base...

    (oh rui, essa de tomarmos a realidade por aquilo que gostaríamos que ela fosse, aplicada ao teu partido... é tipo luva, não? tu até querias que eles fossem socialistas... =)

    gui

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  3. Rui,
    Tal como referes num post, este efeito colateral do reencontrar os Amigos é talvez o melhor do hiper-espaço.
    Já quanto às histórias da carochinha, não falo. Tantas haveria a contar do PS.
    O que me magoa é ver a tua generosidade e lucidez, "esquecer" a poesia juvenil de Manuel Sando que acabo de ler no teu blog.
    Com a devida vénia,transcrevo a parte final:
    "... Afundem-se nesse espasmo de tédio
    Mas deixem-nos buscar
    Os nossos sonhos"

    E para ti borrachinho ( Gui ),
    Só tenho a dizer que a mãe Mi deve estar muito orgulhosa c/ a filha que tem. E com toda a razão. Um beijinho p/ as duas.

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  4. Ao longo dos anos, o Joaquim Namorado e eu, tivemos sucessivas e intermináveis discussões políticas, e não só políticas. Quem o conheceu sabe como ele era perito em fórmulas argumentativas que desarmavam, ou procuravam desarmar, o adversário.

    Uma delas procurava responder a uma réplica que lhe tivesse sido dirigida, quando alguém se defendia de uma das suas críticas ao seu "campo", retorquindo com uma crítica ao "campo" dele.

    Dizia: "Olha lá! O facto de eu te chamar careca, não quer dizer que tenha uma juba de leão."

    Uma parte da minha resposta podia reduzir-se no essencial a isso.

    ( continua)

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  5. 2ª parte

    Mas eu acrescento ainda um pouco mais: se ambos não sentissem, bem lá no fundo, que eu tenho razão, tinham-me rebatido e não tinham cedido á tentação fácil de dizerem umas evidências sobre o PS.

    Eu não pretendo ser um juiz da história que distribui palmatoadas e certificados de bom comportamento, conforme os outros se afastam mais ou menos das suas posições. Também tento não me limitar a ser um membro activo de uma claque exigente que distribui apupos e aplausos, visando os que entram realmente no jogo.

    Embora saiba que é difícil, muito difícil, procuro colocar-me no ponto de vista dos que querem agir para transformar, entendendo aqui acção num sentido muito amplo.

    Pelo menos o BM pode recordar-se pela nossa experiência estudantil, a diferença entre dizer coisas terrivelmente certas, dento de uma pequena sala, para gáudio de vinte iluminados que se excitam até ao paroxismo; e a imperfeição de saber estar entre os homens comuns para contribuir para que, no seu imenso conjunto, se ponham realmente em movimento, por pouco que consigam andar.E, às vezes, até podem andar muito.

    E o que eu digo pode ilustrar-se bem, recorrendo à história de uma manobra de ilusionismo jornalístico de que me recordo. Há uns bons anos atrás, num jornal de Lisboa, alguém resolveu evocar o movimento estudenatil do início dos anos setenta, informando sobre os conteúdos radicais das tomadas de posição. Mas ilustrava esse paroxismo radicalde ousado verbo com as grandes assembleias de estudantes de Coimbra da crise de 1969. Realmente, se ele tivesse conseguido fotografar os quarenta maoistas que haviam sido mobilizados pela radicalidade descrita teria iulustrdo bem a diferença entre a radicalidade do discurso e a eficácia das iniciativas realmenet transformadoras.

    Os graves epígonos de Mao e os determinados herdeiros de Ttotski, que voviferavam nos corredores das Universidades nesse dealbar do fascismo, jazem no museu da memória bruxulenado como pirilampos perdidos.
    Mas aquela malta um tanto boémia, pouco rigorosa, sem conhecer bem os"livros", com um estranho hábito de pensar pela própria cabeça e de tomar as suas decisões por si própria, alérgica aos croquetes ideológicos então em voga, fez uma festa, virou a mesa e pôs-se de pé. Hoje, dizem que foi aquela rapazaiada bem disposta uma das raízes do 25 de Abril. Não cabia numa sala, não era toda ela rigorosamente à esquerda, limitou-se a ficar tranquilamente na História como quem toma uma bica.

    Talvez, seja essa experiência que me ensina que a história é feita por gente pouco elegante, talvez não muito apresentável, aventureiros imprudentes às vezes, cautelosos asuicidas quando é caso disso que, principalmente, a vivem naturalmente, como homens comuns. Confio menos nas virtualidades dos cérebros excessivamente brilhantes, capazes de ferver a 90 graus como o ângulo recto,mas que nunca conseguem juntar mais do ue vinte iluminados numa sala em brasa para viverem a emoção extrema de um grande revolução que desde já minucuisamente preparam para o século XXV.

    É por isso, que estar no meio de muita gente é muitas vezes raiz de inglórias e incómodos, mas tem a virtude de permitir que se aspire a que essa nossa gente se possa um dia mover connosco. Pelo contrário, partilhar com pequenos destacamentos o rigor da revolução perfeita e submeter ao crivo implacável de uma qualquer cartilha os gestos imperfeitos dos mortais que realmente existem é talvez um estimulante exercício do espírito, mas provavelmente é um fogo fátuo que o tempo apagará com cinzas de entardecer.
    ( continuação)

    Só uma dupla como a vossa , só duas pessoas que tanto estimo, estavam em condições de me arrancar esta prosa. Enfim, já arrancaram.
    Um abraço para o outono resmungão e para a primvera irrequieta,

    Rui Namorado

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  6. Ainda tive o privilégio de privar na Pr. da República, infelizmente pouco, com o teu tio, mas olha que ele tinha mesmo uma juba de leão.
    Eu é que, pecador me confesso, estou cada vez mais careca. Mas não irás sem tréplica.
    Não hoje, porque estou no escritório a fazer pela vidinha e não tenho net em casa.
    Mas sempre adiantarei que tb. o teu PS começou com meia dúzia de "bicos". Como todos os partidos. E não foi isso que lhe retirou a credibilidade...
    E também posso acrescentar desde já que não é com anátemas de maoismos, trotskismos e dos amanhãs silenciosos que vergaremos. Já estamos habituados.
    A seu tempo,espero que breve ( tenho que consultar os livros ...), tentarei dizer mais do que umas evidências.
    Um forte abraço ( seja qual for a estação do ano ).
    ( a continuar, dentro de dias )

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  7. Rui,
    O prometido é devido.
    Vou responder às tuas palmatoadas...ainda hoje ou amanhã. Mas vou fazê-lo num post autónomo pois está um bocado extenso.
    Forte abraço

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