terça-feira, 23 de junho de 2009

A exigência das opções e a nostalgia das massas




Vem este post a propósito de um breve bate papo com um muito querido Amigo, o Rui Namorado, com referência ao m/ anterior texto subordinado ao título " O actor engenheiro e as eleições europeias " ( v. comentários )
Num 1º comentário foi-me então respondido que confundia a realidade com aquilo que gostaria que ela fosse, asseverando outrossim que a hipótese do BE vir a ter força para governar - e no caso só o Bloco me faz sair a terreiro - era uma verdadeira história da carochinha ( sic ).

Quanto às histórias da carochinha lá remeti o m/ querido Amigo para as do PS e quanto ao mais limitei-me a citar o jovem RN / Manuel Sando cujo poema acabara de ler no seu blog.

Supunha que nada mais haveria a dizer sobre o assunto quando deparo com um 2º comentário - franca generosidade do RN - dizendo que afinal eu também tinha claudicado ao não rebatê-lo pois que tinha-me limitado às tais "evidências " sobre o PS.


Nada de mais injusto, pois que
Nada havia a rebater.
Rebater o quê ? As " evidências s/ o PS ? Mas tinha sido eu a assinalá-las, preto no branco. E isto porquanto calar as evidências é muitas vezes sinónimo de branqueamento. Cabia-lhe a ele, RN, refutá-las se as achasse merecedoras de comentário. Mas não o fez, sendo que pelo m/ lado efectivamente nada tinha a contraditar.

Creditei esta postura do RN como o afloramento de uma das tais fórmulas argumentativas de JOAQUIM NAMORADO ( "juba de leão vs. careca" ).

Agora contudo face a este 2º comentário tenho já matéria p/ rebater.
Vamos pois, conforme o prometido, ao que interessa.

Embora sem a autoridade do RN, também eu tento pelo meu lado colocar-me na perspectiva dos que querem agir para transformar.
E por isso, correndo o risco das evidências, quero aqui sublinhar alguns aspectos.


1º- Subscrevo, ponto por ponto, toda a visão retrospectiva que nesse seu 2º comentário RN nos dá da experiência estudantil de 1969 bem como as considerações que tece quanto aos agentes da história ( que viraram a mesa... ) e quanto aos iluminados cérebros a ferver a 90º como o ângulo recto ( impressiva imagem e nada mais certo ) que se esgotaram neles próprios.


Quanto a isto nada há a dizer, acrescentando mesmo que ninguém melhor do que RN ligou então a teoria e a praxis naquele contexto. Já o tenho afirmado em diversas ocasiões e até com uma ponta de orgulho, devo confessá-lo.


2º- Já o mesmo não poderei dizer da transposição que RN faz a partir desse contexto para a actualidade política.
É que não basta estar no "meio de muita gente". No limite, e por absurdo, o argumento poderia levar-nos a procurar respostas no seio do PPD, que também tem muita gente...

Não faço contudo a injustiça de ter sido este o sentido da sua afirmação, mas
Como sabemos, ter muita gente, ter as maiorias connosco não nos outorga, sem mais, a razão de que supomos ser portadores.
A História tem neste conspecto um alfobre cheio de exemplos.


3º- Com RN, direi ainda que " essa nossa gente" que um dia se moverá connosco não está à espera de cérebros iluminados ou de um D. Sebastião qualquer. Embora convenha alertar p/ o perigo.

Do que se trata é de propostas concretas e aglutinadoras que todos possam subscrever e enriquecer , que satisfaçam os seus anseios, necessidades e inquietações.
Mas não tão amplas e vagas que se diluam e descaracterizem, e até o PSD as possa subscrever.
Nem tão tíbias e enleadas nos jogos do poder que os destinatários as confundam com as do PSD, ficando por meras cosméticas a desaguar no " ora agora governo eu, ora agora governas tu ".
E sempre tudo na mesma !
E é isto que eu vejo o PS oferecer. Nem mais nem menos.

Também por isso há que procurar respostas em outros barcos. E desde logo no BE.
Mas sempre com os pés bem assentes na terra. E matriciado em pilares e valores, que não se alienam, alguns dos quais vem a propósito destacar.

Para tanto, socorro-me de um outro querido Irmão, o CELSO CRUZEIRO, cujo livro " A Nova Esquerda " é de imprescindível leitura e que neste particular nos traz ajuda fundamental .

É urgente e incontornável o enfoque da realidade política que nos circunda numa tríplice ordem de vectores :


- um combate sem quartel e constante ao neoliberalismo ;
- propugnar por uma economia social / solidária ( v.g. o movimento cooperativo, o Forum Social Mundial / Porto Alegre ) em paralelo e conjugação c/ os sindicatos;
- apontar p/ a necessidade imperiosa do intervencionismo de um Estado Social que tenha como ponto axial a transformação da natureza das empresas e do mercado que se deverão centrar no interesse público, cumprindo a sua função social na produção dos bens.


Muito mais se poderia dizer, obviamente. Mas isto é um blog.

E assim com Celso Cruzeiro concluo :

" ... Desfeito o sonho de uma vanguarda classista tomar sobre si o ónus universal de erguer a prática da solidariedade, a tarefa das forças órfãs de tal projecto.... consistirá não só na reconstrução do Estado como na restauração de uma relação nova deste com a sociedade. Esta relação implica o reconhecimento de uma componente política, económica e social autónoma com processos democráticos de decisão directa numa nova esfera pública."
( in " A NOVA ESQUERDA", pg. 216 - 1ª ed. de 2008 )


Suponho até que a " margem esquerda" subscreveria algo parecido com isto.
Mas o PS, não!

E é esta exigência nas opções que não permite a nostalgia das massas ( leia-se " muita gente " ) !

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