terça-feira, 19 de outubro de 2010

A ACTUALIDADE DO PENSAMENTO DE BERNARDINO MACHADO




















Em tempos de Comemorações da República, é incontornável evocar a figura de BERNARDINO MACHADO.

Político, estadista, pedagogo, cientista, BERNARDINO MACHADO dedicou toda uma vida, quase centenária, e até ao fim dos seus dias, num ingente e abnegado esforço de cidadania e civismo que nem as agruras de dois exílios o fizeram esmorecer.

Bem pelo contrário, foi ao longo do segundo exílio,de cerca de 14 anos, que após o 28 de Maio, este ideólogo da 1ª República dirigiu a partir de Espanha, inicialmente na Galiza , em Santa Tecla ( para não perder de vista o seu País ) e depois de França - sempre rodeado de tantos outros vultos, entre os quais Aquilino Ribeiro e Jaime Cortesão, então igualmente exilados - alguns dos mais certeiros ataques à ditadura, mostrando toda a sua têmpera, agora de Resistente.

Salazar, o pigmeu de Santa Comba mancomunado com Franco e incomodado pela proximidade geográfica de B.M., de tal forma o temia, que o obrigou a um novo exílio - um exílio dentro do exílio -, e conseguiu que o falagista o enviasse para longe da fronteira. Primeiro, para a Espanha profunda e, mais tarde, com o advento da Guerra, mas agora a conselho de correlegionários seus, para França.

B.M. é provavelmente mais conhecido como estadista e político, mas o seu exemplo de pedagogo, cientista e RESISTENTE num contínuo e persistente ataque à ditadura salazarista não é certamente o menos relevante.
Bem pelo contrário.

Toda a sua vida é um notável exemplo de resistência, que só vamos encontrar em outros registos políticos.
Falecido em 1944, não teve já a felicidade de, 30 anos volvidos, ver o 25 de Abril .

O seu magistério de RESISTENTE deixou contudo um lastro de pedagogia, criando efectivas raízes éticas e políticas.

Falamos de um Homem de antes quebrar que torcer e que alguém na sua época caricaturava assim : BERNARDINO MACHADO, caniço por fora, aço por dentro !

E não falam aqui os afectos de um dos seus seus inúmeros netos, mas a cogência e actualidade da reabilitação da 1ª República nos seus valores, os mais generosos, e na pessoa de um dos seus mais ilustres.

De resto, a evocação da figura de B.M., felizmente, tem ainda sido mantida viva por muitos, e desde logo por outros seus netos, entre os quais me permito nomear apenas alguns dos que ainda estão entre nós, o  Manuel Machado Sá Marques ( cfr. o seu precioso blog - http://manuel-bernardinomachado.com/ ) e Elzira Machado Rosa ( a grande impulsionadora do museu BERNARDINO MACHADO em Famalicão - cfr. http://www.bernardinomachado.org/ ).

Pela incontornável actualidade que transporta, nada mais oportuno do que reler a sua obra de que retirei, quase ao acaso, dois pequenos extractos.

No opúsculo " A SOCIALIZAÇÃO DO ENSINO ", discurso que pronunciou na abertura da sessão inaugural dos " Cursos para Operários" do Instituto de Coimbra, a 1 de Fevereiro de 1897, ainda em plena monarquia, já então ensinava:

" ... Assim como a lei tenta defender da doença e da ignorancia o filho do proletario, assim deveria tambem proteger a creança abastada contra a atrophia moral "

“... Numa palavra, que todos os soldados possam aspirar ao generalato, e não haja official superior que não tenha passado pelas fileiras ! "


E ainda, do texto "Eleições", de 3 de Julho de 1921 - extraido de "DEPOIS DE  21 DE MAIO " ( este há pouco transcrito no referido blog do m/ primo, Sá Marques ) :


" Os partidos não se imobilizam. Transformam-se incessantemente, avigorando-se ou enfraquecendo-se, crescendo ou decaindo, quando mesmo não são lançados ao ostracismo. Grupos, que surgem como dissidências apenas, se não são meros produtos erráticos, sempre efémeros, de vãs discórdias, se os alenta uma clara finalidade de interesse público, podem tornar-se preponderantes.A vida de uma colectividade assenta inteiramente na sua idoneidade para encarar e resolver os altos problemas pendentes. E é o que a sagra no conceito nacional.
O rotativismo é afinal, uma ditadura a duo."

A impressionante clarividência e actualidade deste homem !
"O rotativismo é afinal, uma ditadura a duo."
Parece escrito a pensar no Portugal de hoje.


Transpondo para os nossos dias,  não resisto a retirar,também eu, algumas conclusões :

1º - Um partido que se pretende de esquerda, não pode alienar os seus valores e diluir-se na direita.
2º - Um partido de esquerda não resolve os problemas do País com dissidências erráticas internas e sem expressão exterior. Deve unir-se, cerrar fileiras e falar a uma só voz. Com a voz da ESQUERDA !
3º - Os altos interesses do País não se resolvem com as esmolas da Comunidade Europeia, mas com a luta pela profunda modificação das instituições e das instâncias comunitárias e internacionais por forma a transformar a " esmola " em "solidariedade", e
4º - Não permitir que na pobreza reinante, a ingerência do capital, vazadouro ideológico do niilismo, transforme os interesses dos banqueiros nacionais ( mandatários dos verdadeiros mandantes - a alta finança internacional ) no interesse do País.
5º - E um homem de esquerda não deve ver em todos aqueles com quem não concorda, mas que se revêem na esquerda, apenas petits Gavroches e  assim enveredar pela ditadura a duo.
6º - E já agora..., a esquerda vota para a Presidência da República em  MANUEL ALEGRE.
       Com poesia e com os pés bem assentes na terra !

Sem comentários:

Enviar um comentário