É já a segunda vez que este blog regressa ao Prof. BOAVENTURA SOUSA SANTOS.
É um nome a reter.
Tem-nos sempre oferecido uma análise isenta e rigorosa, mas igualmente sempre empenhada, sobre este país, esta europa, este mundo.
E não apenas àquela que, dispersa, nos vai deixando pelos sites, jornais e revistas, como é o caso do texto que, com a devida vénia, aqui se transcreve, há já algum tempo publicado na " VISÃO" de 06 de Maio de .2010 :
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O fascismo financeiro é talvez o mais virulento. Comanda os mercados financeiros de valores e de moedas, a especulaçãofinanceira global, um conjunto hoje designado por economia de casino. Esta forma de fascismo social é talvez a mais pluralista na medida em que os movimentos são o produto de decisões de investidores individuais ou institucionais espalhados por todo o mundo e, aliás, sem nada em comum senão o desejo de rentabilizar os seus valores. Por ser o fascismo mais pluralista é também o mais agressivo, porque o seu espaço-tempo é o mais refractário a qualquer intervenção democrática. Significativa, a este respeito, é a resposta do corretor da bolsa de valores quando lhe perguntavam o que para ele era o longo prazo : " Longo prazo para mim sõ os próximos dez minutos ". Este espaço-tempo virtualmente instantâneo e global, combinado com a lógica de lucro especulativa que o sustenta, confere um imenso poder discricionário ao capital financeiro, praticamente incontrolável apesar de suficientemente poderoso para abalar, em segundos, a economia real ou a estabilidade política de qualquer país
A virulência do fascismo financeiro reside em que ele, sendo de todos o mais internacional, está a servir de modelo a instituições de regulação global crescentemente importantes, apesar de pouco conhecidas do público. Entre elas, as empresas de rating, a empresas internacionalmente acreditadas para avaliar a situação financeira dos Estados e os consequentes riscos e oportunidades que eles oferecem aos investidores internacionais. As notas atribuidas - que vão de AAA a D - são determinantes para as condições em que um país ou uma empresa de um país pode aceder ao crédito internacional. Quanto mais alta a nota, melhores as condições.
Estas empresas têm um poder extraordinário. Segundo o colunista do New York Times, Thomas Friedman, " o mundo do pós guerra fria tem duas superpotências: os EUA e a agência Moody's . A " Moody's é uma dessas agências de rating, ao lado da Standard and Poor's e Fitch Investors Services. Friedman justifica a sua afirmação acrescentando que " se é verdade que os EUA podem aniquilar um inimigo utilizando o seu arsenal militar, a agência de qualificação financeira Moody's tem poder para estrangular financeiramente um país, atribuindo-lhe uma má nota"
Num momento em que os devedores públicos e privados entram numa batalha mundial para atrair capitais, uma má nota pode significar o colapso financeiro do país. Os critérios adoptados pelas empresas de rating são em grande medida arbitrários, reforçam as desigualdades no sistema mundial e dão origem a efeitos perversos: o simples rumor de uma próxima desqualificação pode provocar enorme convulsão no mercado de valores de um país.. O poder discricionário destas empresas é tanto maior quanto lhes assiste a prerrogativa de atribuirem qualificações não solicitadas pelos países ou devedores visados. A virulência do fascismo financeiro reside no seu potencial de destruição, na sua capacidade para lançar no abismo da exclusão países pobres inteiros.
Escrevia isto a pensar no Terceiro Mundo. Não podia imaginar que o fosse recuperar a pensar em países da União Europeia .
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