quinta-feira, 14 de maio de 2009

As duas Repúblicas




Há já algum tempo que venho congeminando trazer aqui esta questão.
Cresci, como tantos outros, sob a ditadura do Estado Novo ( tenho 67 anos ). Celebrávamos então a República, o 5 de Outubro, com "vivas" numa clandestinidade mais ou menos consentida. Constituía então a afirmação da passagem do testemunho da esquerda.

Data que na altura - e vão algumas décadas - já pouco nos dizia ou quase nada.

A ditadura do Estado Novo fazia por isso. Lápis azul, prisões e cassetête eram a receita. Os manuais escolares, e em particular os de história, também ajudaram. Foi o "apagão" da República...

Mas porque a consciência cívica e política amadurecia, a República permanecia no nosso consciente histórico.

Aprendemos a ver para lá dos manuais escolares e a compreender que a República existia, respeitando nos seus vultos as qualidades que os adversários temiam. Honradez, convicções, ideais de fraternidade, apego à liberdade.

Eram democratas tributários dos enciclopedistas e da Revolução francesa, que não enriqueceram à mesa do orçamento . Muitos empobreceram ! ( que contraste com os dias de hoje ...)

Impolutos, como então se dizia, foram eles os verdadeiros obreiros da República, os que " sujaram as mãos " no quotidiano da política institucional ( e não só !). Affonso Costa, Bernardino Machado, António José de Almeida, Teófilo Braga, Brito Camacho, Ramalho Ortigão, João Chagas, etc., etc., etc

Onde estão eles ? Onde está a 1ª República ?!...

O PS substitui-os pelos seareiros, com António Sérgio na primeira linha.

E até aqui tudo bem. Que o PS tenha encontrado a sua matriz na Seara Nova é legítimo. Constitui mesmo um passo em frente no percurso de certa esquerda. Pois que na República havia já segmentos que se posicionavam nessa outra esquerda, porventura mais consequente.

Esquerda na qual não nos revemos, mas que, também ela, tem obrigações.

E desde logo o imperativo histórico e político de não deixar esquecer assim a 1ª República para - em homenagem aos "seus", a uma alegada matriz ( até ela, as mais das vezes esquecida pelos próprios ) - emular a República nos ícones que não são os dela, mas do PS.

E tudo isto abriu caminho para hoje se chegar ao ponto de falar em 3 Repúblicas !..

Mas a moral não o permite ( há uma ética republicana !), a história não o consente ( há uma História que não é a do Matoso ou do Saraiva ) e a política tem de falar verdade ( doa a quem doer, começando pelo PS *).

Há que separar águas. Há que repor verdade e justiça neste despudorado melting pot das três Repúblicas e neste lio onde tudo se pretende confundir.

E até em homenagem aos seareiros, que estariam entre os primeiros a repudiar esta mélange dos interesses partidários.

Há pois que recentrar a questão. E o centenário que se avizinha é uma oportunidade.

Só que algo me diz que no 5 de Outubro se continuará a falar de 3 Repúblicas. E que não será o centenário da 1ª República, mas da Seara Nova e do PS .

E até aqui também tudo bem...

...... tudo bem, desde que o novo centenário da 1ª República daqui a outros cem anos seja dedicado ao Bloco de Esquerda.

.

Que data se vai comemorar no 5 de Outubro ?

Uma data histórica ou uma data partidária ?



(*) É de justiça referir que Mário Soares - na esteira aliás do que Fernando Rosas vem ensinando -, aqui há algum tempo, teve o escrúpulo de denunciar a salgalhada das três inefáveis Repúblicas.

4 comentários:

  1. Acho, ligeiramente, exagerado atribuir ao PS uma boa parte da culpa, pela queda do avião na Indonésia.

    RN

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  2. Posso até concordar, mas que avião caiu. Lá isso caiu! E na cabine havia um comandante que o tripulava !

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  3. Isto é, o PS é tão perverso que constituiria um grave desvio de direita admitir sequer que talvez ele não tenha realmente culpa pela queda do avião na longínqua Indonésia. E nem se diga que tem alguma importância a informação, de fonte segura, que sustenta que na referida aeronave não viajava ninguém da oposição, nem nenhum magistrado do MP.
    Fontes geralmente bem informadas t~em assegurado que nem o piloto nem o co-piloto pertenciam à Internacional Socialista.

    RN

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  4. Só agora respondo pois 6ª Feira foi feriado municipal aqui no burgo e não tenho net em casa. Suponho contudo ainda ir a tempo.
    As mesmas fontes geralmente bem informadas, acabam de transmitir que o comandante da aeronave pertencia ao BE, do mesmo passo que informavam que o EuroJust só queria o Lopes da Mota, e mais nenhum. Ah!, já me esquecia... também disseram que o candidato às europeias do PS era o seu melhor cartão de visita.
    Vá-se lá perceber porquê. Grave desvio de esquerda ou de direita?

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