quinta-feira, 7 de maio de 2009

datas...




Gosto das coisas claras.
O 17 de Abril (a "Universidade Nova"), o 25 de Abril ( a liberdade ), 0 Maio de 68 ( sempre a liberdade ), o 1º de Maio ( o trabalho ), o MAYDAY ( o presente, o futuro, a solidariedade ).

Estas são as minhas datas .

Vem isto a propósito de uma breve troca de mensagens entre dois irmãos que estiveram em Coimbra no passado 17 de Abril e depois se corresponderam pela forma que, com a devida vénia, abaixo transcrevo.


Por um lado, a Margarida, a Miss Red... ( um docinho que é filha de um outro docinho, a Mi, e do meu querido amigo Jorge Pinho ), na juventude dos seus vinte e poucos aninhos, dixit :

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les soixantes huitards sont sexagenaires
Coimbra, 17 de Abril de 200940 anos passados sobre a 'nossa versão' do maio de 68, a crise dos estudantes universitários contra a ditadura, contra o poder autoritário e contra a guerra. O acontecimento da vida de muitas das pessoas reunidas hoje, aqui, para jantar e para dar os abraços emocionados aos companheiros das velhas lutas.Muitos já não se reconhecem, entre as pilosidades desaparecidas das cabeças, algumas barrigas crescidas e as rugas que teimam em marcar os anos que passam. Aging is a bitch.Deputados do reino e outros políticos mais ou menos profissionais passeiam-se pela sala, mais os outros membros da elite intelectual das várias áreas da educação universitária de outros tempos, dos tempos em que estudar era um raro salvo conduto para o trabalho bem remunerado e para o acesso à cidadania qualificada dos-homens-bons.O mundo mudou apesar deles, apesar do sonho de um mundo melhor - alguns vergaram sob o peso da realidade, outros ficaram obstinadamente fieis aos princípios que abraçaram quando eram dezanovinhos (e não chegaram a poder poder). Os que envelheceram pior, parece-me, foram os que perderam o projecto primeiro, os que no compromisso se comprometeram, perdendo de vista o objectivo da pulverização do poder em democracia real, da justiça social e da igualdade entre as pessoas.Eu estou cá como filha desta geração ainda no poder. Parece-me que as gerações depois desta ficaram à sua sombra - foram mais eles que tiveram, melhor ou pior, a oportunidade de ter o mundo nas mãos e de o reger desde a instauração da democracia, ocupando os poderes e as posições de influência social, política e económica até hoje.Os 'soixante-huitards' conseguiram várias coisas no seu percurso e na sua regência - mas creio que não souberam defender as gerações seguintes da predação do sistema neoliberal.Os seus filhos são os novos pobres, de volta à luta pela sobrevivência. As gerações à rasca, os sem direitos à cidadania, à habitação, à maioridade e independência, ao trabalho e aos direitos laborais, à educação de qualidade e à vida de qualidade. E que, por tudo isso, não acreditam no sistema político, na gestão do que é comunitário - mais que tudo, a geração de 68 não soube passar o testemunho..
Publicada por miss red em
6:45 PM "

Do outro lado, um irmão, o Rui Namorado ( tantas saudades ! ), ele próprio talvez o primeiro dos soixante huitards, que se move num Grande Zoo, " picado pela abelhinha", comentou :

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Olá, desde sexta-feira.Vi o que viste. E o teu olhar sem complacência não nos pode magoar.É óbvio que a marca do tempo traduzida em gerações não pode ser ignorada. Em si própria, abre novos possíveis e suscita novos problemas.Mas referi-la como se dispusesse de uma centralidade absoluta, colocando a "geração" como imaginário sujeito histórico, é um equívoco que deixa na sombra a acção das verdadeiras causas, permite aos fautores da conservação que permaneçam ocultos e pouco contribui para que se progrida na identidficação dos combates presentes a travar, para a escolha de aliados e para identificação dos inimigos verdadeiramente estratégicos.Nunca me passou pela cabeça responsabilizar a geração dos meus avós pela instituição do salazarismo, nem a dos meus pais pela sua duração.Assumo por inteiro a responsabilidade de todos os meus actos ao longo da minha vida. Não aceito ser metido mo mesmo saco do que aqueles a quem me opus sempre. Não se podem responsabilizar em conjunto as vítimas e os carrascos, os patrões e os operários, a direita e a esquerda.Aceito ser corresponsabilizado com os que considero meus irmãos, não aceito se responsabilizado em conjunto com os que considero meus inimigos.Um beijo.Rui Namorado
Abril 20, 2009 11:52 AM "


Mas este comentário teve réplica que desta feita transcrevo parcialmente . Assim,

"
miss red disse...
olá, Rui. Pois, tu és dessas admiráveis almas raras que não perderam o objectivo... Eu e o meu texto distinguimos-te perfeitamente dos comprometidos com as apostas políticas que nos têm feito perder direitos, qualidade de vida e capacidade de intervenção política e cívica, e sobretudo, crença no sistema democrático representativo. Não há confusão possível. ...E também não creio que a 'geração' seja um sujeito histórico - eu penso de forma tão diferente da maior parte das pessoas da minha idade que conheço... O que falo é do grupo de pessoas, sensivelmente da mesma idade, de esquerda, que se envolveram e/ou protagonizaram as crises académicas de 69 em Portugal, ou o maio de 68 em França. Falo da gente que partilhava um código de valores para o mundo, que conseguiu gizar uma estratégia comum. Que é a minha mãe e voces todos (e eu cresci a nutrir e alimentar um orgulho muito grande por voces todos, e por 69 e por 74...). Falo dessa gente da qual sairam uns quantos que tiveram e/ou têm o poder na mão - e que se calhar se esqueceram de para que é que queriam o poder no inicio (talvez por deixar lentamente de ter contacto com o real e os problemas de-todos-os-dias, por se habituarem ao ar condicionado e talvez por se eternizarem nas danças de cadeiras em que parece que toda a gente sabe de tudo (hoje-sou-ministro-do-ambiente-amanha-gestor-da-galp-e-depois-outra-coisa-qualquer). Falo da malta que hoje está a reformar-se e que não me parece que tenha deixado sucessores políticos melhores que eles mesmos como era sua tarefa obrigatória - porque nunca se apostou nisso, porque deixaram, acho eu, que a politica se tornasse atractiva só para a gente quer tacho e aparelho. O que para mim explica o estado dos partidos, a sua grande falta de densidade política/ideológica/de participaçã/de ideias concretas... e a descrença pública relativamente a eles. O meu olhar não pretende, nunca, magoar. Mas para desenhar é preciso, primeiro, olhar, e às vezes a realidade doi "

........ " Gostava de vos ver a todos nas manifs do MAYDAY 2009, em Lx ou no Porto. Para mostrarem que se demarcam deste estado de mundo - e que continuam a querer construir um mundo bem melhor que este...
Abril 20, 2009 1:36 PM "


E também eu gostava de os ver a todos nas manifs do MAYDAY, pelo que termino por onde comecei :

Pelas nossas datas e pelo testemunho que passámos, agora é o tempo de dizer presente nas Manifs do MAYDAY !...

E foi isso que eu queria também ter ouvido em tréplica ( até agora omissa ) do meu irmão .

Continuo à espera....


ESTAS SÃO AS NOSSAS DATAS !

5 comentários:

  1. Caro Bento
    Acabo de descobir o teu blog, através do do Rui Namorado. Prometo ser frequentador assíduo.
    Até para que "o tédio não comece a invadir-nos"!
    Um grade abraço do
    António Horta Pinto (doravante AHP)

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  2. =) err... pois.. eu não estou habituada a ser citada, mas está bem... beijo (e a ti, porque não te encontrei no 17 de abril???)

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  3. Porque estava no hospital.Pouco simpático e menos ainda agradável, mas frequente nos soixantehuitards. Um beijão.

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  4. Horta Pinto,
    Sou um "iniciado".... Voltarei ao teu contacto, com mais tempo. É bom rever-te. E com que saudades

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  5. oh tadinho! mas tas melhor? e quando apareces cá pelo porto?

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